terça-feira, 11 de setembro de 2012

RELATOS SOBRE LONDRINA ANTIGA - BOSQUE

FOLHAWEB

1/09/2012 -- 00h00

BOSQUE ANTIGAMENTE

Londrinense de paixão, o paulista Seni Lazarini é responsável por várias obras na cidade, incluindo os banheiros da Área Central
César Augusto
Seni Lazarini lembra bem o papel que o Bosque exercia na vida dos londrinenses: ''Nosso lazer começava aqui e terminava na Avenida Paraná''
Acervo pessoal
Seni (à direita), com amigos, nos primórdios da área de lazer
Um senhor caminha pelo Bosque Marechal Cândido Rondon no Centro de Londrina, usando seu inseparável chapéu Panamá. Ele para, olha para cima e, com ar saudosista, fala de sua parcela de contribuição na construção do local. ''Mais do que saudade, parece um sonho quando eu penso nesse lugar'', diz Seni Lazarini, hoje com 85 anos. 


Há exatamente 67 anos, o paulista, filho de imigrantes italianos, foi o responsável, junto com outros dois amigos, pela construção dos banheiros e da caixa d'agua do Bosque, em 1949. ''Imagina um lugar fechado de mata nativa, com espécies de árvores como pau-d'alho e peroba-rosa. A Rua Piauí era de terra e na Concha Acústica funcionava um ponto de ônibus'', relembra. 



Ao olhar ao redor, ele percebe as mudanças no local e lamenta: ''Londrina cresceu muito rápido e hoje este lugar está triste. É muita sujeira de pombo e um sensação de abandono'', comenta ele, que ao contrário de décadas passadas, não frequenta mais a área. 



Pai de sete filhos e avô de oito netos, Lazarini adotou Londrina como uma filha. Ainda criança, mudou para Santa Mariana (Norte Pioneiro) com os pais, que foram trabalhar nas lavouras de café. Em 1946, veio para Londrina, onde aprendeu a profissão de encanador. 



Seu primeiro serviço foi na construção do Hotel Coroados, depois o Hospital Evangélico, o antigo prédio do Cadeião e o Bosque Central, quando tinha 22 anos. Ao voltar ao passado, ele conta a alta demanda de serviços na década de 50. ''Construíamos casas e, ao mesmo tempo, íamos recebendo outras propostas. Era um trabalho atrás do outro. Certo dia, estávamos no topo de uma obra quando observamos dois aviões de pequeno porte se chocando no ar. Um deles caiu na Praça Rocha Pombo, mas quando chegamos, já estava em chamas'', lembra, se referindo ao acidente de agosto de 1947. 



Sentado nos bancos do Bosque, ele também resgata os momentos em que o local, doado pela Companhia de Terras Melhoramentos Norte do Paraná, era um ponto de encontro dos londrinenses. Aos poucos, o local ia ganhando forma de praça. 



Bancos foram instalados para a alegria dos casais que aproveitavam a paisagem para namorar, as trilhas eram utilizadas nos passeios de bicicletas pelos rapazes e o minizoológico que existia no local fazia a diversão das crianças. ''Tinha anta, tartaruga, macaco. Nosso lazer começava aqui e terminava na Avenida Paraná (Calçadão), pois aos finais de semana a rua era fechada e se enchia de moças, rapazes, pipoqueiros e lambe-lambes'', destaca. 



Com a ''Geada Negra'' de 75, que atingiu a cidade, Lazarini mudou-se para São Paulo em busca de trabalho, mas não conseguiu ficar longe da terra vermelha. Hoje, esse homem que teve um papel fundamental na ''construção'' de Londrina continua morando na Vila Casoni (Área Central), onde conheceu a esposa, se casou e constituiu família. E de casa, continua a observar a ''pequena Londrina'' guardada na lembrança, se transformando em uma grande cidade formada por histórias como as suas, vivas na memória.